A imagem reflete a sensação de quem escreveu esse texto. Fonte https://br.pinterest.com/pin/535435843183180979/ |
Naquela época (como hoje) a maioria não votava em partido, mas em pessoas, do gênero se for honesto, se for bonito, se fizer algo pelo meu Estado ou meu bairro, ou pior se fizer algo por mim.
O pensamento era votar no microcosmo em que se vivia: eleição para presidente, vereador, prefeito, deputado? Ótimo! O que ele pode fazer por mim, para a minha família, para os meus amigos, pelos meus negócios?
Poucos diziam: O que eles podem fazer pelo Brasil?
Eram poucos à época, mas se comparado com hoje, proporcionalmente, eram muitos...
Pois então, voltando...nem lembro em quem votei pela primeira vez, nem em qual função, lembro apenas de ouvir os que já tinham votado antes, e fui lá e carimbei o papel! Sou da época do papel sim, de marcar xis, dobrar folha bem dobradinha e enfiar na urna.
Daí nunca quem eu votava ganhava, tipo fazer o quê? Vivemos uma democracia, correto?
Errado! Em uma época sem celulares, sem vídeos, sem gravadores, sem ninguém vendo ou controlando, todos os resultados eram discutíveis, mas mesmo assim você largava um "Amém irmão!"e segue a vida que político nenhum te sustentava, pelo contrário você trabalhava para sustentá-los, tal qual hoje.
Segue a vida, entra ano, sai ano, época de eleição, vai lá votar e como nada dava certo, votava em branco, nulo, enchia aquele papel da votação de desaforos e depois ficava quietinho por que anulou o voto e isso era muito anti-democrático...mas sempre na próxima eleição dizia que votaria melhor, votava e o candidato agora eleito fazia tudo ao contrário do que havia prometido...
Entrava governo, saía governo e o famoso conceito de 'homem cordial' brasileiro, tão propalado pelos intelectuais, estudado por sociólogos, endeusados por historiadores, ia se esvaindo na mediocridade social, na ignorância dos incautos, na fragilizada educação solapada pelas crenças fundamentalistas; de tal forma essa mudança silenciosa ocorreu que, quando chegamos ao século XXI, pensando lá atrás que seríamos uma grande potência mundial, nos conscientizamos que regredimos a uma Idade Média que sequer havia existido no Brasil!
Que merda é essa? Saímos da modernidade e entramos na era das trevas? Joguem fora a linha do tempo histórica, porque não tem como explicar o que existe hoje no Brasil. Tem sim.
O homem cordial, conceito criado por Sérgio Buarque de Holanda, em 1936 - que explica direitinho o que ocorre hoje - identificou a figura social brasileira, como oriundo de uma sociedade patriarcal, que seria afável, mas dado a rompantes de violência, que nunca soube distinguir o público do privado, mas era temente a Deus e, portanto tentava controlar seus impulsos mundanos através do manto da honestidade e postura afável. Na realidade, quando o historiador criou o conceito, imaginava que com a expansão das cidades, da democracia, da melhoria da qualidade de vida, esse 'homem cordial' desapareceria e no lugar surgiria o brasileiro moderno, contemporâneo, blá, blá, blá...
Pois bem, o pobre coitado do homem (com todo o respeito) tá revirando a ossada no túmulo cada vez que alguém do atual governo abre a boca para falar ou fazer algo.
Portanto, o homem cordial continua vivíssimo, ativo e descontrolado, porque caíram as máscaras, não há mais a necessidade de ter medo a quem quer que seja físico ou sobrenatural.
Mas como? Com o isso foi acontecer? Não pode! Estão destruindo o Brasil, meu Deus você não era brasileiro, porque nos abandonou?
Exageros à parte nas exortações acima, o que acontece hoje nada mais é do que o desejo concretizado dos homens e mulheres cordiais existentes nesse país continental. Sendo assim, vamos eleger alguém que vai dar voz e agir em nosso nome, ou seja, vai odiar pobres, gays, negros, professores, artistas, ambientalistas, protetores dos animais e dos seres humanos, vai ser machista, misógino, ignorante, vai destruir tudo que precariamente foi construído desde a queda da ditadura e para finalizar vai referendar essas ações dizendo que era necessário para salvar o país da maré vermelha (nada a ver com a geografia, só para lembrar).
Que eu me recorde vocês agora estão reclamando de quê criaturas?
Esse foi o único político, desde que eu voto, que está fazendo EXATAMENTE o que disse que iria fazer. Mas o importante era tirar o outro partido correto?
Errado cara pálida, o importante era ter votado, não era ter anulado o voto ou deixado em branco, a época de fazer isso já passou, a época de escolher um político de estimação e não em um partido ou o seu programa de governo, na hora de votar, já passou!
Criaturas?????
Um terço da população assumiu a sua verdadeira face, os outros dois terços se omitiram!
Estão reclamando de quê?
Passem bem e até as próximas eleições!
Regina Gravina