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A ganância que mata
Noticiam os jornais, de vez em quando, a descoberta de
medicamentos falsificados, entregues ao consumo público
em quantidades impressionantes. Ainda recentemente essas notícias referiram-se a antibióticos. O fato é
divulgado, e logo depois faz-se silêncio sobre ele. Porque, se temos notícia de assassínios, fraudes,
peculatos, estelionatos, transgressões de toda
espécie e tipo, dificilmente chegamos a conhecer os
resultados de inquéritos que, segundo consta, foram abertos, e bem pouco, ou nada sabemos do
que se terá passado com os culpados, e quais foram as providências tomadas por que de direito
para salvaguardar os interesses do povo, e mais do que os
interesses, a própria vida de cada qual.
O assassínio puro é simples, à mão armada ou à mão limpa, fruto de velho ódio, ou de
súbito furor, inspirado pelo ciúme ou pelo despeito, consequência de roubo, assalto, bebedeira, mas
assassínio cara a cara, motivado, enfim pelo mais estúpido dos
motivos que seja tem uma explicação, embora não tenha justificativa nem desculpa. Há uma explicação até para o assassínio encomendado ao pistoleiro. O mandante
odeia alguém. O instrumento não odeia, mas exerce uma
atividade, e, exercendo-a, arrisca sua liberdade e sua vida. A
falsificação de medicamentos, entretanto, é uma forma de assassínio a frio, sem alvo e sem motivação, é
crime dos mais vis, porque cometido de emboscada segura, e num atirar às cegas, sem que se saiba
quem vai ser ferido.
O falsificador, tornando inócuo o medicamentos que a determinado instante será a salvação de uma vida, o
amparo de um coração que declina, o
guardião de um corpo que a infecção
empurra para seu fim, está matando
quem jamais viu, quem nunca o prejudicou, consciente ou inconscientemente.
Está matando sem ódio, sem paixão,
sem motivo. Quer dinheiro, apenas,
quer satisfazer sua ganância, e não
tem coragem de procurar esse
dinheiro no roubo despejado, no roubo
em que se pode ficar na mira de um
policial ou do próprio roubado, no roubo que dá cadeia e escândalo e arruina um nome e uma existência, onde o ladrão se expõe no próprio
momento em que o comete.
Não! Ele é demasiado inteligente para isso: sabe como matar e roubar sem que fiquem vestígios, sabe como matar e roubar a distância, bem protegido. Também matam, lenta
e seguramente os que fornecem as
drogas que levam à idiotice, à
loucura, à morte, os que servem o
último copo ou já intoxicado,
trazendo-lhe a completa perda do
domínio do seu corpo, da sua mente,
da sua dignidade. E também esses por aí andam, impunes e regalados, cevados no lamaçal onde chafurdam seus clientes, fartos de um vampirismo exercido à solta.
Ganância! Avidez pelo dinheiro, avidez pelo poder.
Erguem-se contra tudo e contra todos, na cegueira de obter as únicas coisas que têm importância para a pobreza de espírito de muita gente.
Nair Lacerda – 10/02/1996
Crônica de
Nair Lacerda, publicada na Tribuna de Santos no dia 10 de Fevereiro de 1996.
Fonte http://www.santoandre.sp.gov.br/biblioteca/nl/cronicas/190lacerda
E FOI ESCRITO EM 1996, E NESTA SEMANA FOI
PRESA UMA QUADRILHA QUE ESTAVA VENDENDO REMÉDIO FALSIFICADO.
NADA MUDOU.
BJOSS SURTADINHOSSS
ROSANA
temos um longo caminho pela frente...
boa quarta!
boa quarta!