- Ora, mamãe! Não fique
triste porque a televisão queimou...!Foi assim que disse, consolando a mãe, a
menina Lucinha. Viúva há pouco tempo, dona Amélia lutava com dificuldades para
sustentar os três filhos: Lucinha, Marquinhos e Luiquique. Luiquique é o
caçula. Na verdade o seu nome é Luiz Henrique, só tem três anos e é muito
agarrado a sua irmã Lucinha de seis. Dona Amélia, sentindo a falta do marido,
dizia. -
Hoje é Natal e não temos aquela alegria de antes. Não temos seu pai para cantar
e brincar. A casa está escura. Não tenho vontade de acender a árvore de natal
nem de falar com ninguém e a televisão achou de pifar logo hoje. Não podemos
ver os especiais de Natal nem de Ano Novo. Oh, meu Deus...! Mas as crianças
eram a alegria em pessoa e suas almas, forjadas a partir de uma centelha de
Deus, tiveram uma idéia. Tendo Lucinha à frente, eles foram a procura dos seus
jogos de brinquedo, e imploraram à mãe que jogasse com eles. Jogaram o “jogo da
velha”, “batalha naval”, “jogo da memória”, “alfabeto português”, “monte sua
árvore de natal”. Riram muito quando a mãe tentava montar, com as formas
geométricas, a figura de um palhaço, ela sempre errava. Disseram “Oh!” todos
juntos quando a mãe acertou pintar todos os animais de número ímpar. No
quebra-cabeça “corpo humano”, eles rolaram no chão de tanto rir, quando a mãe
pôs o joelho na cabeça da figura. No joguinho “sopa de letras”, ah! Neste então
nem se fala. “Vamos encontrar a palavra “pato”. “Não, mãe, é p a
t o”. Dona Amélia ria da sua dificuldade em lidar
com os jogos das crianças. Depois, um pouco mais habituada, começou a errar de
propósito só para ouvir a gargalhada cristalina dos filhos. A filha reparou que a
mãe estava mudada. A mulher se levantou do chão, acendeu a árvore de natal,
colocou a estrela que faltava na ponta da árvore e até se esqueceu da
televisão. Já era noite. O jantar foi servido com alegria e muita algazarra por
parte das crianças que recitavam a uma só voz, batendo os garfos nos pratos:
“Peru
ru ru, hoje eu como tu!
Com farofa ou com angu
Bem aqui na minha mesa
Com suco de framboesa.”
Terminado o jantar,
louça lavada e cozinha arrumada, foram todos para a sala. Lucinha ligou a
vitrola antiga e colocou seu disquinho de cantigas de Natal, presente de seu
pai. Todos cantaram. Lucinha ficou encantada com a voz da mãe acompanhando a
canção Noite Feliz. Fazia algum tempo que ela não ouvia a mãe cantar. Fez os
irmãos ficarem quietos para que a voz de dona Amélia aparecesse melhor.
Estavam emocionados e, quando terminou, as três crianças correram para ela e
lhe deram aquele abraço que elas chamavam de “abraço de urso”. Com os três filhos
abraçados a ela, dona Amélia perguntou: - Quem vai querer panetone, nozes e
castanha? O
grito foi um só: - euuu... O delicioso panetone, feito pela vovó Anita, quase foi
devorado na sua totalidade. – Crianças, deixem um lugarzinho no estômago para
abrigar as castanhas. – recomendou a mãe. Depois ela lhes contou a
história do Natal de Cristo e, por volta das vinte e três horas, as crianças,
cansadas, foram levadas para a cama. - É hora de dormir com os anjos, minhas
crianças. – disse a mãe. - Então, mamãe, você ainda está triste por causa da televisão? –
perguntou Lucinha dando um beijo em dona Amélia. - Não, minha querida. Quem tem o que eu
tenho, não precisa de televisão. Pra quê? Este dia de hoje eu vou guardá-lo
pela eternidade afora. Nunca me senti tão feliz e alegre como neste Natal. Amo
vocês crianças! E beijando cada um deles, dona Amélia foi para o seu quarto rezar
pelo marido e agradecer a Deus pelos filhos que Ele lhe deu.
15/11/07.