25 de abr. de 2011

GRANDE DRÁUZIO!!!!

Conheci o trabalho do Dr. Dráuzio Varella quando fazia o mestrado em Literatura, já que o meu tema abordava a violência e a vida nas favelas e a produção cultural. Seu livro Estação Carandiru, era leitura obrigatória para tentar entender como se davam os processos criativos em estruturas marcadas pela violência e o uso de drogas. Pois bem, o mestrado 'dançou', mas o respeito pelo seu trabalho continuou e transcrevo aqui parte da reportagem feita pela Folha de São Paulo (link) sobre o seu  livro A teoria das janelas quebradas. Vale a pena conhecer! Grande Dráuzio!!!


Drauzio Varella explica por que maconheiro velho reclama do baseado de hoje



"A Teoria das Janelas Quebradas" traz 65 textos com assuntos bem variados. O consumo de drogas é um dos destaques. Drauzio escreve, por exemplo, sobre a dependência em maconha e cocaína, sem julgamentos morais. O médico se coloca na posição de amigo e evita qualquer imagem de superioridade. Ao falar de álcool, por exemplo, confessa que prefere uma cachacinha.

O título do livro é uma referência a um dos textos, que sintetiza a ideia principal do livro: um médico atento às novidades que, antes de tudo, é um cidadão preocupado com o mundo e as pessoas a sua volta.
Leia uma crônica de "A Teoria das Janelas Quebradas" sobre as queixas de usuários veteranos sobre qualidade da erva de hoje - ao notarem a perda da sensibilidade, alguns brincam com a fonética dizendo "não tô tintindo nada".
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Todo maconheiro velho reclama da qualidade da maconha atual. Perto da maconha daquele tempo, dizem, a de agora é uma palha sem graça.
A observação é paradoxal, porque a maconha de hoje tem concentrações muito mais altas de THC, o componente psicoativo da planta, do que as contidas nos baseados de vinte anos atrás.
A queixa procede, no entanto. O THC inalado, ao chegar ao cérebro, libera quantidades suprafisiológicas de neurotransmissores -como a dopamina- ligados às sensações de prazer e de recompensa. Como tentativa de adaptação à agressão química representada pela repetição do estímulo, os circuitos de neurônios envolvidos na resposta, sobrecarregados, perdem gradativamente a sensibilidade à droga, produzindo concentrações cada vez mais baixas dos referidos neurotransmissores. Nessa fase, a nostalgia toma conta do espírito do usuário.
É por causa desse mecanismo de tolerância ou dessensibilização que o prazer induzido não apenas pelo THC mas por qualquer droga psicoativa diminui de intensidade com a administração prolongada. Se é assim, por que o usuário crônico insiste na busca de uma recompensa que não mais encontrará? Por que fraqueja depois de ter jurado parar? Por que alguém cheira cocaína mesmo quando vive o terror das alucinações persecutórias toda vez que o faz?
A resposta está nos circuitos de neurônios responsáveis pela motivação, memória e aprendizado.


Esse mecanismo compartilhado permite entender por que a "fissura" associada à abstinência costuma ser disparada por memórias ligadas ao ato de consumo da droga. Conscientemente, o usuário pode decidir tomar outra dose ao recordar a euforia ou a felicidade sentida antes. Estímulos sensoriais, no entanto, podem causar efeito semelhante: a visão do cachimbo de crack, o tilintar do gelo no copo, o esconderijo para fumar maconha. Até lembranças mais abstratas (um cheiro, uma música, um acontecimento, uma luminosidade) podem induzir à procura da droga mesmo na ausência de percepção consciente.
A memória e o processo de aprendizado, bem como a exposição do cérebro a drogas psicoativas, modificam a arquitetura das sinapses (o espaço existente entre dois neurônios através do qual o estímulo é modulado ao passar), dando início a uma cadeia de eventos moleculares capazes de alterar por muito tempo o comportamento individual.
Não faz sentido falar generalizadamente em "efeito das drogas", visto que cada uma age segundo mecanismos farmacológicos específicos. Mas, se existe um efeito comum a todas elas, é a estimulação dos circuitos cerebrais de recompensa mediada pela liberação de dopamina, através da interação da droga com receptores localizados na superfície dos neurônios.
Está bem documentado que o bombardeio incessante desses neurônios reduz progressivamente o número de receptores que respondem à dopamina. À medida que o cérebro fica menos sensível à dopamina, o usuário começa a perder a sensibilidade às alegrias cotidianas: namorar, assistir a um filme, ler um livro. O único estímulo ainda intenso o bastante para ativar-lhe os circuitos da motivação e do prazer é o impacto da droga nos neurônios.
Essa inversão de prioridades motivacionais torna seus atos incompreensíveis. Não é verdade que o adolescente rouba o anel de estimação da mãe para comprar crack porque não tem amor por ela; ele o faz simplesmente porque gosta mais do crack.
A maioria dos que se libertaram da dependência de uma droga se queixa de que é preciso lutar pelo resto da vida contra a tentação de recair. Não conhecemos com exatidão os passos pelos quais as drogas psicoativas induzem alterações permanentes no cérebro. Mas os especialistas suspeitam que a resposta esteja nas distorções que elas provocam na estrutura das sinapses.
Nos últimos anos, foi demonstrado que, durante o processo de memorização, surgem novas ramificações nos neurônios. E que esses novos prolongamentos vão estabelecer sinapses duradouras com neurônios da vizinhança, aumentando a complexidade e a versatilidade da circuitaria nas áreas do cérebro que coordenam a memória.
Quando sensibilizamos camundongos à cocaína, ocorre fenômeno semelhante: surgem novas ramificações e novas sinapses, mas nos neurônios situados nas áreas que controlam os sistemas de recompensa e de tomada de decisões.
Os circuitos envolvidos no aprendizado e na memória estão sendo vasculhados pelos que estudam a neurobiologia da adição. Talvez esses circuitos nos permitam entender por que alguns experimentam drogas para viver uma experiência agradável e não se tornam dependentes, enquanto outros transformam seu uso em compulsão destruidora.
POR HOJE É SÓ PESSOAL... AGORA ESTOU MAIS TRANQUILA QUANTO AO USO DE NICOTINA E AÇÚCARES...MINHA DIFICULDADE EM LARGÁ-LOS SIGNIFICA QUE PRECISO ACHAR OUTRO GATILHO DE DOPAMINA...OU SEJA, OUTRO VÍCIO!!!! kkkkk...

BEIJOS SURTADOS