10 de abr. de 2012

E O BBB?



NÃO COMENTAMOS BBB, ESSE ANO NEM UMA NOTINHA OU UM TEXTO QUE FIZESSE LEMBRAR O BBB NÓS COLOCAMOS. O PROGRAMA ACABOU HÁ MAIS DE UMA SEMANA, MAS AO LER UM TEXTO NUM SITE QUE COMENTA E COLOCA TEXTOS DE DIVERSOS PROFISSIONAIS COM SUAS OPINIÕES SOBRE O PROGRAMA, NÃO PUDE DEIXAR DE COLOCAR AQUI ESTE TEXTO, ACHEI MUITO INTERESSANTE O ASSUNTO INTITULADO FAEL E A SAÚDE.

FAEL E A SAÚDE

Cá entre nós, confesso: não morro de amores pelo Big Brother Brasil. Por várias razões. Uma delas diz respeito à saúde. À saúde dos brothers e à nossa. Por mais que eles passem por uma bateria de exames médicos antes do confinamento e contem com uma estrutura de atendimento de emergência, tenho sempre a impressão de que alguma coisa pode dar muito errado. Ao vivo. Antes do corte para os comerciais. O corpo humano é capaz de resistir a terríveis agruras, mas cobra um preço pelos maus tratos. Passar 30 horas no porta-malas de um carro não pode fazer bem a ninguém. Nem sacolejar de um lado para outro dentro de um veículo acoplado a um simulador de capotagem. Durante uma hora, três, cinco, nove. Ou ainda ficar dez horas em pé sobre um tamborete, pulando um imenso ponteiro de relógio quando ele se aproxima. Ou ser coberto por um saco plástico (aberto apenas na parte inferior, próxima aos pés) para se sentir como um frango embalado. E depois ser levado a um imenso forno cuja temperatura sobe aos poucos. Em todas as edições do programa, as provas de resistência deixam marcas. Depois de 21 horas preso numa gaiola, sob sol forte, Diego Alemão, aquele homenzarrão forte e saudável do BBB 7, confrontou-se com os limites do próprio corpo. Uma médica entrou em cena para lhe dar um isotônico. Contrariando a orientação dela, Diego bebeu o líquido rápido demais, como um perdido no deserto. Passou mal e desistiu da prova. No BBB 11, o mesmo da prova dos frangos, Paula foi atendida pelos médicos no chão do quarto, pouco depois de uma prova difícil para garantir que a casa fosse reabastecida de comida. Segundo os participantes, teria sofrido uma convulsão. Sem beber água, sem comer, sem ir ao banheiro, sem mudar de posição, sem sentar, sem deitar ao longo de cinco, dez, 12, 18, 20 horas ou mais, até o mais preparado dos atletas pode desmaiar. E, em decorrência da queda, sofrer algo ainda mais grave. Ao que me consta isso nunca aconteceu, mas pode acontecer. Tudo isso diz respeito à saúde dos participantes. Pessoas adultas, vacinadas, capazes de escolher o que querem da vida. Se elas aceitam passar por aquilo tudo, com a felicidade dos eleitos entre milhões de candidatos, é porque enxergam vantagens. De fato, elas devem ser compensatórias. Ao menos na visão de quem aceita participar do jogo. O que o BBB tem a ver com a nossa saúde? No meu caso, provoca um apagão de bem-estar. O bem-estar, essa coisa etérea, que muita gente associa à imagem de uma moça esguia, em posição de lótus, com um pôr-do-sol ao fundo, pode ser definido como uma sensação de satisfação com a vida, uma sensação de felicidade. Saúde e bem-estar caminham juntos. Um depende do outro para existir. O que apaga meu bem-estar e arranha minha saúde é ver aqueles rapazes e moças maltratando o corpo e o espírito em provas implacáveis e humilhantes. Sinto um nó no estômago como se estivesse no lugar deles. Prefiro não olhar. Prefiro ignorar. Sou fraca, reconheço. Fraca a ponto de não conseguir assistir aos suspenses magníficos de Alfred Hitchcock. Perco muito com isso, tenho certeza. Não é exatamente o caso do BBB. Simplesmente arranjo outra coisa para fazer. Talvez eu seja a única neste país inteiro a se incomodar com esse aspecto específico do programa – o da saúde. Deve ser vício do ofício. Nem tudo é só mal-estar. Como nada neste mundo é só bom ou só ruim (nem mesmo os personagens da casa mais vigiada do Brasil), existe uma coisa no BBB que me faz um tremendo bem. Que me emociona, acelera minha pulsação e me faz vibrar. A coisa que me dá satisfação, felicidade e saúde é reconhecer ali brasileiros que nos enchem de orgulho. Foi assim com Jean Wyllys, do BBB 5. Ele venceu o jogo com 50 milhões de votos, apesar de disputar o prêmio com a belíssima e querida Grazi Massafera. Foi lindo ver Jean fazer história. Ao escolher o homossexual assumido, o Brasil dava um recado claro contra a intolerância. Não fosse o BBB, o Brasil não conheceria Jean. Nem teria hoje um de seus mais atuantes deputados federais. Ontem os brasileiros deram outra mensagem de arrepiar. A mensagem de que o trabalho, a ética, a amizade, a sinceridade, a gratidão valem mais que a aparência e a esperteza. O “jeitinho brasileiro”, no pior sentido da expressão, parece estar perdendo sentido para uma nação que se identifica com outros valores e os expressa da forma mais explícita possível – por meio de um programa de TV de grande audiência. Fael foi eleito com um recorde de aceitação. Recebeu 92% dos 43 milhões de votos computados na disputa final. Posso estar enganada, mas acho que o jovem caubói de camisa xadrez, fivelão no cinto e olhos tristes desponta como um símbolo do novo Brasil. Um símbolo da nação que não só espera dias melhores, mas trabalha para isso. Uma nação que honra o trabalho seja ele qual for.
O veterinário de 25 anos não se referia ao trabalho para parecer um sofredor. Falava dele com orgulho, com vontade. Com uma força produtiva e uma determinação que se opunham ao comodismo de tantos garotos e meninas bem nutridos que, na idade dele, vivem debaixo das asas dos pais. Indecisos sobre o que fazer da vida depois de ter torrado o dinheiro do pai e da mãe em mensalidades de várias faculdades jamais concluídas. Rapazes e moças que parecem ter vindo ao mundo a passeio. Fael é o oposto dessa cultura. Como observar isso nos faz bem! Ele não encarnou o bom moço humilde porque isso garante a sobrevivência de quem se aventura num reality show decidido pela vontade popular. O bom moço humilde já estava nele antes de entrar na casa. Deve ter defeitos como qualquer pessoa. É bom que os tenha. Mas ninguém consegue fingir durante 24 horas ao longo de mais de 70 dias. O fingimento salta aos olhos nos grandes e, principalmente, nos pequenos detalhes. O garoto é autêntico. Ao ensinar ao país que Aral Moreira existe, Fael colocou no mapa não só a cidade sul-matogrossense de 10 mil habitantes de onde veio. Nos fez lembrar que o Brasil é muito mais que um ajuntamento de grandes capitais, banhado por um litoral precioso e arejado por uma Amazônia que pede socorro.
Somos também resultado de um ambiente e de uma cultura interiorana que merece ser conhecida e valorizada. Mais do que tudo, o Brasil é rico porque é feito de gente como Fael. A mensagem mais edificante que ouvi em todas as edições do BBB veio de Fael. Foi improvisada por ele, nos poucos segundos que Pedro Bial lhe concedeu para pedir ao país que o fizesse merecedor do prêmio. O vídeo traduz muito mais que as palavras que reproduzo aqui. Vale a pena assisti-lo. Em síntese, a mensagem de Fael para o Brasil que nos orgulha, é esta:
"Cada pedra no caminho sabe o tanto que eu batalhei para estar aqui. Cada curva, cada atoleiro que já passei nas estradas de trabalho. Cada animal que já botei minha mão pra tentar curar e salvar sabe o coração que eu tenho. A coragem, a fé e a humildade que eu tenho na luta da vida. Nada foi fácil, mas eu sempre lutando com muita coragem. E meu coração sempre aberto, disposto a receber e doar. Sempre”. Sempre, Fael. Que a vida continue sorrindo para você”.
CRISTIANE SAGATO - ÉPOCA

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BJOSS SURTADINHOSS
ROSANA