15 de ago. de 2012

Discurso do Presidente do Uruguai - José Mujica1 – na Rio+20





Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável - 20 Junho 2012

"Autoridades presentes de todas as latitudes e organizações, muito obrigado. Meus agradecimentos ao
povo do Brasil e sua senhora presidenta, Dilma Rousseff. Muito obrigado à boa fé, que certamente
manifestaram todos os oradores que me antecederam.
Expressamos a íntima vontade, como governantes, de acompanhar todos os acordos, que esta nossa
pobre humanidade pode assinar.
No entanto, deixem-me fazer algumas perguntas em voz alta.
Durante a tarde toda, falamos sobre desenvolvimento sustentável. De como eliminar o imenso
problema da pobreza.
Que se passa em nossas cabeças? O modelo de desenvolvimento e consumo, que atualmente vivem
as sociedades ricas?
Faço esta pergunta: o que aconteceria com este planeta se os habitantes da Índia tivessem a mesma
proporção de carros por família, que os alemães possuem? Quanto oxigênio teríamos para respirar?
O mundo de hoje teria os elementos materiais para que 7 a 8 bilhões de pessoas possam desfrutar do
mesmo nível de consumo e desperdício que tem as sociedades mais ricas do Ocidente?
Isto é possível?
Ou será que teremos que ter um dia outro tipo de discussão?
Porque nós criamos esta civilização em que estamos: filha do mercado, filha da competição, que se
deparou com o progresso material enfático e explosivo.
Mas a economia de mercado criou sociedades de mercado. E nos deparamos com esta globalização,
que significa olhar por todo o planeta.
Estamos governando a globalização, ou é a globalização que nos governa?
É possível falar de solidariedade e que “estamos todos juntos” em uma economia baseada na
concorrência impiedosa? Até onde chega a nossa fraternidade?
Eu não digo nada disso para negar a importância deste evento. Pelo contrário, o desafio que temos
pela frente é de uma grandiosidade colossal. A grande crise não é ecológica, é política.
O homem não governa hoje! Não há forças envolvidas, senão as forças que governam o homem.
E a vida.
Porque não viemos ao planeta para nos desenvolvermos, em termos gerais. Nós viemos ao planeta pra
sermos felizes. Porque a vida é curta, e rapidamente se vai. E nenhum bem vale mais do que a vida,
isto é claro!
Mas a vida vai se passando, e nós trabalhando e trabalhando para consumir sempre mais e a
sociedade de consumo é o motor, porque, em última análise, se o consumo está paralisado, a
economia para, e se você parar a economia, o fantasma da estagnação econômica aparece para cada
um de nós.
Mas este hiper consumo é o que está agredindo o planeta.
E eles têm que acelerar este hiper consumo, fazendo coisas que durem pouco, porque é preciso
vender muito. E uma lâmpada elétrica, então, não pode durar mais de 1000 horas. Mas existem
lâmpadas que podem durar 100 mil horas acesas! Contudo estas não podem ser feitas porque o
problema é o mercado, porque temos que trabalhar e temos de sustentar uma civilização que “usa e
joga fora”, e por isso estamos em círculo vicioso.
Estes são problemas de caráter político, que estão dizendo que está na hora de começar a lutar por outra cultura.
Não se trata de retornar para os dias do homem das cavernas, ou ter um “monumento ao atraso”. Mas
não podemos continuar indefinidamente sendo governados pelo mercado, e sim, temos de governar o
mercado.
Então eu digo, na minha humilde forma de pensar que o problema que temos é político. Os antigos
pensadores – Epicúreo, Séneca, inclusive os Aymaras, definiam: “Pobre não é o que tem pouco, mas
sim o que necessita infinitamente muito, e deseja, e deseja, mais e mais”.
Isto é crucialmente de caráter cultural.
Então, eu saúdo os esforços e acordos que são feitos. E eu vou segui-los, como governante. Sei
algumas coisas que eu estou dizendo, “perturbam”. Mas devemos perceber que a crise da água e a
agressão ao meio ambiente não são a causa. A causa é o modelo de civilização que nós construímos.
E nós temos que rever o nosso modo de vida.
Eu pertenço a um país pequeno e bem dotado de recursos naturais para viver. No meu país há 3
milhões, pouco mais, 3 milhões e 200 mil habitantes. Mas há cerca de 13 milhões de vacas, das melhores do mundo. E cerca de 8 ou 10 milhões de excelentes ovelhas. O meu país é um exportador
de alimentos, laticínios, carne. É uma planície onde quase 90% da terra é aproveitável.
Meus amigos trabalhadores lutaram arduamente para conquistar direito às máximas 8 horas de
trabalho. E agora eles estão conseguindo o direito às 6 horas. Mas aqueles que conseguiram 6 horas
precisam agora ter dois empregos, portanto, trabalham mais do que antes. Por quê? Porque eles têm
uma infinidade de despesas: a motocicleta que comprou, o automóvel, e pagar contas, e contas. E
quando você acordar, perceberá que é um velho reumático como eu, e se passou toda a vida.
E um fará esta pergunta: este é o sentido da vida humana?
Essas coisas que eu digo são elementares: o desenvolvimento não pode ir contra a felicidade. Tem
que ser a favor da felicidade humana, do amor ao planeta Terra, às relações humanas, do amor aos
filhos, de ter amigos, ter somente o necessário.
Precisamente, porque este é o tesouro mais valioso que temos. Quando lutamos pelo meio ambiente,
devemos lembrar que o primeiro elemento do meio ambiente se chama FELICIDADE HUMANA.
Muito obrigado."

ALGUÉM CHEGOU A OUVIR, LER OU VER ESSE DISCURSO?
NA TELEVISÃO, NO RÁDIO, JORNAIS OU REVISTAS?
POIS É...
BOA QUARTA!
BEIJOKAS