Eu me recordo...
...desde o primeiro dia em que aprendi a ler, quando as
palavras deixaram de ser “coisas pretas estranhas” e passaram a ter um sentido.
Era tudo novo, cada placa de trânsito lida era como ler um
tratado de semiótica ou uma enciclopédia! Não que eu soubesse o que era
semiótica ou tivesse visto uma enciclopédia antes na vida. Mas, mais tarde,
descobri que a sensação era a mesma...
Tudo girava em torno do conhecer e aprender; para isso tive
não apenas o apoio dos professores, mas
tive o maior estímulo possível: aquele que apenas a família é capaz de
oferecer. Nessas horas, sempre tem um familiar disposto a ensinar o quanto o
mundo das letras era maravilhoso. Hoje, tento fazer o mesmo, mas o mundo é
outro, e as prioridades mudaram. Não causa mais espanto ler um livro.
É apenas mais uma obrigação.
A recordação mais antiga que possuo da minha aprendizagem,
era estar em um salão com mesas e cadeiras, um quadro verde montado em cima de
uma estrutura tosca de madeira, e a professora pedindo que nos preparássemos
para escrever um ditado. Aqui, um pequeno aparte: mal entrei na escola e parte
dela havia pego fogo; fomos obrigados, os mais novos, a estudar em uma outra
estrutura escolar, montada às pressas, no ginásio... Apenas, muitos anos
depois, quando contava essa historia a outros, percebi que esse era o sonho de
todo aluno: que a escola pegasse fogo e não houvessem aulas! Mas, eram outros tempos
e, com ou sem destruição, estávamos tendo aula.
Pois bem, voltando ao ditado. Quando a professora disse que
era um teste, fiquei nervosa, pois quem fosse bem, ganharia um belo pirulito.
E, como eu queria aquele doce! Era considerada a melhor aluna, portanto, aquele
pirulito já era meu! Não foi, pois na pressa e na certeza de não ter errado, eu
errei e muito!
Fui uma das poucas a não ganhar um pirulito naquele dia. Na
hora, foi uma grande decepção, mas como toda a criança me dei conta que nem
queria aquela coisa vermelha e sem graça. E a vida seguiu, às vezes, eu ganhava
algo pelo meu empenho, mas nunca perdia nada, pois havia aprendido mesmo com as
falhas, o conhecimento era algo que uma vez assimilado, nunca mais poderia ser
tirado de mim e sempre haveria algo a ser aproveitado em função dele.
Para encerrar, foi na Universidade, onde me diziam que era
apenas tudo festa e festa, que percebi que tomar um ‘porre de livros’ me trazia
a única ressaca agradável: uma cheia de cultura! Bons tempos...mas não faria tudo, nem nada novamente....kkkkkkk
BEIJOKAS SURTADAS,