3 de jan. de 2014

CULTURA NUNCA É DEMAIS...

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O curso da vida de cada um não está predeterminado pelos planetas, como queria a astrologia; mas a de todos, em geral, está, desde que a cada idade corresponde um deles, na ordem respectiva, e a vida é sucessivamente governada por todos.

Aos dez anos reina Mercúrio. Assim como ele, o homem se move, rápida e facilmente no círculo mais estreito: ninharias podem fazê-lo mudar de opinião; mas aprende muito e sem esforço, sob o domínio do deus da Solércia* e da Eloquência.

Aos vinte começa o império de Vênus: o amor e as mulheres têm-no todo em seu poder.

Aos trinta, domina Marte: então, o homem é impulsivo, forte, arrojado, belicoso e renitente.

Aos quarenta, presidem os quatro Planetoides, pelo que se alarga a vida: ele é frugi, isto é, torna-se um servo do utilitário, graças a Ceres; tem o seu próprio lar, por força de Vesta: aprendeu o que precisa saber, graças a Palas; e, como Juno, manda a senhora da casa, a sua mulher.

Aos 50 anos, porém, domina Júpiter. Já o homem sobreviveu à maior parte e sente-se superior à geração atual. Ainda em pleno gozo de suas forças, está rico em experiências e em conhecimentos: (na medida de sua individualidade e situação) tem autoridade sobre todos os que o cercam. Assim, não quer mais ser mandado, mas mandar ele próprio. Agora é que está mais talhado para guia e senhor em sua esfera. Assim culmina Júpiter e, com ele, o homem de cinquenta anos.

Entretanto, aos sessenta, segue-se Saturno, com o peso, a lentidão e a tenacidade do chumbo. (...) Finalmente vem Urano: aí então, como se diz, vai-se para o céu.

A Netuno (...) não posso aqui levar em linha de conta, uma vez que não devo chamá-lo pelo nome verdadeiro, que é Eros. Se não, eu haveria de mostrar como o fim se encadeia ao começo, a saber, como Eros está, com a Morte, em misteriosa conexão, graças à qual o Orco** (...) não é só o que toma, mas também aquele que dá; e que a Morte é o grande reservatório da Vida. De lá, portanto, de lá, do Orco, é que vem tudo; e tudo quanto tem vida agora já esteve lá: bastava que fôssemos capazes de compreender o passe de mágica através do qual isso acontece, e tudo estaria claro.

Arthur Schopenhauer - "Aforismos para a sabedoria da vida"


* agudeza, argúcia, astúcia, esperteza, finura.

** Orco (em latim: Orcus) era o deus do submundo na mitologia romana. Da mesma forma que acontecia com Hades, o nome do deus também foi usado para designar o próprio submundo. Em linguagem poética, significa região dos mortos; inferno.


UM BOM FINAL DE SEMANA
GENTE SURTADA!!!
BEIJÃO SURTADO,