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É impressionante o caos que se estabelece internamente quando uma pessoa não aceita certos acontecimentos. Vamos abordar, neste texto, a aceitação, no sentido de dar por verdade, acreditar no que está ali. Normalmente o termo é usado no sentido de dar aprovação, acatar, receber, mas aqui estamos nos referindo à capacidade de negação das pessoas diante de fatos que elas não admitem que estejam acontecendo.
“Eu não aceito isso!”, diz a esposa para o marido, quando ele propõe a separação. Discordar da proposta mantém uma chance de se conversar sobre as possibilidades de entendimento, de eles resolverem suas diferenças. Se ela diz “Eu não aceito isso” como uma negação do fato, não há nenhuma possibilidade para ela de se falar a respeito.
Normalmente, busca-se no outro uma reação que traga uma resposta para o problema existente, mas a não aceitação que gera conflitos é a anterior a isso. É no sentido de acreditar que o fato esteja acontecendo, que ele exista. Se a pessoa não aceita determinada situação, ela não acredita que algo possa estar errado e que, portanto, nada precisa ser feito para mudá-la. A aceitação aqui não quer dizer concordância. “Aceito (acredito, mesmo não gostando) que esteja acontecendo, mas não concordo com o que está acontecendo”. A partir de então é possível se fazer algo para mudar o fato.
Exemplo típico de não aceitação é a recente novela Global, em que o filho é portador de esquizofrenia e sua mãe não aceita que ele possa estar doente. Para ela “não é necessário tratá-lo”. Para quê, “se ele não tem nada? Se o seu mal é apenas um leve stress?”.
A não aceitação da existência de situações com as quais não se concorda é muito comum e atinge a todos nós, sem exceção. Alguns de forma mais acentuada, outros menos, mas o fato é que estamos todos vulneráveis. Os mais abertos às possibilidades da vida apenas identificam rapidamente suas resistências e, então, as eliminam, passando a olhar para os fatos com outros olhos.
É comum dizermos: “Não adianta você negar, é preciso que você aceite os fatos”. O que se está dizendo, neste caso, é que os problemas existem e precisam ser resolvidos.
Quando as pessoas não aceitam as coisas negativas que acontecem em suas vidas, elas começam a desenvolver internamente um complexo mecanismo, a fim de tentar se proteger, que desencadeia o surgimento de doenças, sejam emocionais ou físicos, pois os problemas continuam, e pior, não são “tratados”.
É muito comum os pais ficarem cegos aos sinais emitidos pelos filhos, quando seus comportamentos indicam que algo não está bem, pois o medo de encarar a realidade os impede de observar e atuar de forma a detectar as causas da mudança e eliminá-las, ou corrigi-las. Depois, ficam desesperados, pois os filhos foram detidos drogados, ou em situações de delito.
Nas empresas, o fluxo de caixa já aponta para uma redução constante na entrada de capital, mas seus dirigentes continuam a “acreditar” que está tudo em ordem. Não atentam para o que possa estar causando a queda do faturamento. Portanto, nada será feito em prol de uma correção, o que acaba culminando em uma “ação emergencial corretiva”, que normalmente é a demissão de funcionários.
Ter uma postura pró-ativa não significa concordar com tudo, porém nos garante uma integração com o mundo no qual vivemos, mesmo que tenhamos que presenciar algumas “aberrações”, pois são inevitáveis. Na Inglaterra, visando o “bem-estar e o conforto” de seus funcionários, uma empresa determinou que a partir daquele momento, todos poderiam trabalhar nus. Assim não se sentiriam bloqueados ou inibidos. Ser a moda pega!... Dá para acreditar?
Os relacionamentos fortalecem seus vínculos quando as pessoas envolvidas deixam de “selecionar” o que concordam e que não concordam, negando esses últimos. Não negar as evidências. Não negar as possibilidades. Não negar significa estar aberto para se ver tudo, e aí sim, manifestar sua concordância ou não.
Na maioria das vezes, a “cura” de nossos males está na aceitação da existência desses males.
por Paulo Salvio Antolini - pauloantolini@terra.com.br
BOM INICIO DE SEMANA POVO SURTADO!
BEIJÃO,
REGINA