parte UM
‘Em uma das minhas muitas vidas
vividas, já fui esposa de Tutânkamon, mas ele era muito menino e deixei-o de
lado; já fui um grande atriz e cantora de ópera do século XIX e tive o prazer
de viver com minha alma gêmea em Londres....’
Essas e outras pérolas, ouvi
durante um bom par de meses da boca de uma mulher bicho-grilo que vivia na
nossa rua...
A praga era tão fora da casinha
que parecia um pé de maconha ambulante, aliás, como ela própria dizia ‘sou mais
que o próprio ar, não preciso de fumaças estranhas dentro de meu corpo...’.
Certo minha filha, hum, hum, me engana que eu gosto, pela idade da figura não
precisava mesmo, tinha cara de quem já havia fumado todas!!!
Mas, deixando isso de lado, era
pessoa muito simpática, com uma intuição aguçada sobre a ‘aura’ das pessoas
(para mim parecia mais uma análise de caráter, mas como ela nunca
errava....aprendi a acreditar), de bem com a vida, com tiradas inteligentes e
irônicas que demonstravam que o estrago da ‘fumacinha’ não tinha sido lá tão sério.
Além disso, tinha histórias interessantíssimas para contar....entretanto, nunca
soube se eram frutos da sua imaginação ou reais mesmo, mas era bom de ouvir...
Uma dessas histórias se passava
em alguma cidadezinha perdida do Marrocos, nem perguntem o nome, nem quando,
acho que foi em outra vida.... Então, ela contou sobre uma velha, que vivia a
fofocar e caluniar outras mulheres da vizinhança mas que agia de forma tão
furtiva, que ninguém, ou quase ninguém, percebia as maldades; a maioria das
pessoas achavam que por ser velha, estava ficando senil, e pouca atenção lhe
davam... Entretanto, algumas de suas palavras tomavam corpo, e acabavam
prejudicando alguém...Sempre que se ia procurar a origem de alguma informação,
o rastro se perdia como as areias
do deserto...
Adendo, minha amiga bicho-grilo
além de ótima contadora de histórias, sabia usar termos poéticos e profundos, o
que ajudava bastante a passar as tardes úmidas e tediosas na Martinho. Continuando...
Porém, a ex-esposa do Tio Tuta
(apelido carinhoso dado por ela, ao faraó! O tio é mania minha...) percebeu
imediatamente que havia algo de errado na mulher, porque ela nem era tão velha
assim, aliás, muitas vezes usava roupas de cores destinadas às mulheres mais
jovens, que dificilmente senhoras
usariam, e tinha trejeitos e posturas de uma ...digamos, ‘viúva-alegre’, com a
diferença que o marido estava ‘vivinho da silva’!
Eis que a nossa amalucada resolve seguir a nossa velhota, que saía todo dia depois do almoço, no horário
mais quente e, claro, totalmente deserto e desaparecia entre ruelas, retornando
apenas no fim da tarde. Nas primeiras tentativas de espionar, não apenas ela
perdia a velhota de vista, como se perdia também, levando, muitas vezes, horas
para retornar para casa......Tô dizendo que a mulher era fora da casinha!
Mas nossa amiga nunca desistiu,
achava um verdadeiro mistério essas idas e vindas da velhota, e como ninguém
questionava, marido sempre trabalhando e outros tendo mais o que fazer....Abre
aspas: perceberam que ela também não tinha realmente NADA para fazer?, fecha
aspas.
Resolveu, então, ir pelo caminho mais fácil: se tornou
amiga inseparável da linguaruda!!! Em suas palavras, era como se azeite e água
vivessem juntos, não se misturavam mas sempre se atraiam (quem faz fritura em
casa, sabe muito bem do que estou falando...).
Para encurtar essa história, sim,
porque a maluquete levou quase uma semana para me contar isso, aliás, teve dias
em que pensei seriamente em chantagear minha doce amiguinha com o ‘cigarrinho
do capeta’ para ver se ela adiantava o trem...
continua amanhã....
uma semana bem maluca para
todas/os nós!!!
regina
p.s.: não se esqueçam de allimentar os peixinhos!
é só clicar com o mouse em cima da água....
p.s.: não se esqueçam de allimentar os peixinhos!
é só clicar com o mouse em cima da água....