14 de jun. de 2010

CONTOS DA MARTINHO: 'VIDAS PASSADAS'
parte UM




‘Em uma das minhas muitas vidas vividas, já fui esposa de Tutânkamon, mas ele era muito menino e deixei-o de lado; já fui um grande atriz e cantora de ópera do século XIX e tive o prazer de viver com minha alma gêmea em Londres....’
Essas e outras pérolas, ouvi durante um bom par de meses da boca de uma mulher bicho-grilo que vivia na nossa rua...
A praga era tão fora da casinha que parecia um pé de maconha ambulante, aliás, como ela própria dizia ‘sou mais que o próprio ar, não preciso de fumaças estranhas dentro de meu corpo...’. Certo minha filha, hum, hum, me engana que eu gosto, pela idade da figura não precisava mesmo, tinha cara de quem já havia fumado todas!!!
Mas, deixando isso de lado, era pessoa muito simpática, com uma intuição aguçada sobre a ‘aura’ das pessoas (para mim parecia mais uma análise de caráter, mas como ela nunca errava....aprendi a acreditar), de bem com a vida, com tiradas inteligentes e irônicas que demonstravam que o estrago da ‘fumacinha’ não tinha sido lá tão sério. Além disso, tinha histórias interessantíssimas para contar....entretanto, nunca soube se eram frutos da sua imaginação ou reais mesmo, mas era bom de ouvir...
Uma dessas histórias se passava em alguma cidadezinha perdida do Marrocos, nem perguntem o nome, nem quando, acho que foi em outra vida.... Então, ela contou sobre uma velha, que vivia a fofocar e caluniar outras mulheres da vizinhança mas que agia de forma tão furtiva, que ninguém, ou quase ninguém, percebia as maldades; a maioria das pessoas achavam que por ser velha, estava ficando senil, e pouca atenção lhe davam... Entretanto, algumas de suas palavras tomavam corpo, e acabavam prejudicando alguém...Sempre que se ia procurar a origem de alguma informação, o rastro se perdia como as  areias do deserto...
Adendo, minha amiga bicho-grilo além de ótima contadora de histórias, sabia usar termos poéticos e profundos, o que ajudava bastante a passar as tardes úmidas e tediosas na Martinho. Continuando...
Porém, a ex-esposa do Tio Tuta (apelido carinhoso dado por ela, ao faraó! O tio é mania minha...) percebeu imediatamente que havia algo de errado na mulher, porque ela nem era tão velha assim, aliás, muitas vezes usava roupas de cores destinadas às mulheres mais jovens, que dificilmente  senhoras usariam, e tinha trejeitos e posturas de uma ...digamos, ‘viúva-alegre’, com a diferença que o marido estava ‘vivinho da silva’!
Eis que a nossa amalucada resolve seguir a nossa velhota, que saía todo dia depois do almoço, no horário mais quente e, claro, totalmente deserto e desaparecia entre ruelas, retornando apenas no fim da tarde. Nas primeiras tentativas de espionar, não apenas ela perdia a velhota de vista, como se perdia também, levando, muitas vezes, horas para retornar para casa......Tô dizendo que a mulher era fora da casinha!
Mas nossa amiga nunca desistiu, achava um verdadeiro mistério essas idas e vindas da velhota, e como ninguém questionava, marido sempre trabalhando e outros tendo mais o que fazer....Abre aspas: perceberam que ela também não tinha realmente NADA para fazer?, fecha aspas.
Resolveu, então,  ir pelo caminho mais fácil: se tornou amiga inseparável da linguaruda!!! Em suas palavras, era como se azeite e água vivessem juntos, não se misturavam mas sempre se atraiam (quem faz fritura em casa, sabe muito bem do que estou falando...).
Para encurtar essa história, sim, porque a maluquete levou quase uma semana para me contar isso, aliás, teve dias em que pensei seriamente em chantagear minha doce amiguinha com o ‘cigarrinho do capeta’ para ver se ela adiantava o trem...
continua amanhã....

uma semana bem maluca para 
todas/os nós!!!
regina


p.s.: não se esqueçam de allimentar os peixinhos!
é só clicar com o mouse em cima da água....