09/02/2011 - 08h27 - FOLHA DE SÃO PAULO
Hélio Schwartsman: BBB e a psicologia da mentira
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Em nome da transparência, devo avisar que comento a
mais recente edição do "reality show" da Globo, o "BBB11",
sem jamais ter assistido a um capítulo.
O novo e interessante campo da psicologia da mentira
tem algo a dizer sobre as falsidades midiáticas em geral e os "reality
shows" em particular. Estes últimos constituem um caso clássico de
propaganda enganosa, como mostra Robert Feldman em "The Liar in Your
Life" (o mentiroso em sua vida).
Para começar, o simples fato de confinar pessoas numa
casa, pendurar-lhes microfones e filmá-las enquanto se digladiam por um prêmio
já é algo que modifica a realidade. E essa é uma limitação do formato, não
deste ou daquele programa específico.
Uma variante do gênero, "Man vs. Wild", em
que um ex-soldado das forças especiais aparece enfrentando situações extremas
de sobrevivência, gerou polêmica depois que veio a público a informação de que
o protagonista da série havia passado alguns dias entre as filmagens num hotel
luxuoso, ao contrário do que o programa dava a entender.
Como se não bastasse, dezenas, centenas de horas de
filmagens, são editadas num espaço de 30 ou 40 minutos que concentram assim
níveis irreais de realidade. No mundo de verdade, aventureiros às vezes
enfrentam perigos e pessoas às vezes brigam. Nos "reality shows",
fazem isso o tempo inteiro.
Para agravar ainda mais o quadro, reportagens com
graus de confiabilidade variáveis sobre esses programas afirmam que muitos
deles são grosseiramente manipulados, com encenações e montagens. Em inglês,
cunhou-se o termo "frankenbite" para designar a edição capciosa de
"reality shows" na qual os produtores juntam palavras pronunciadas em
diferentes situações para forjar uma fala que corresponda à história que eles
querem contar.
Há razões objetivas para o exagero. Se as pessoas
quisessem realidade real, tudo o que teriam de fazer é desligar a TV. No fundo,
o que elas querem é entretenimento. Mas, neste caso, por que mentir, sugerindo
que esses programas trazem uma realidade que é totalmente fictícia?
A resposta está no que eu chamo de paradoxo de Mark
Twain. O grande escritor americano uma vez disse que a diferença entre ficção e
realidade é que a primeira precisa ser verossímil. Pois bem, paradoxalmente,
quando anunciamos que uma história inventada é real, as pessoas acreditam e já
não precisamos nos preocupar em buscar a verossimilhança.
O truque, como observa Feldman, foi utilizado pelos
irmãos Coen na deliciosa (e surrealista) comédia "Fargo". A imprensa,
é claro, foi atrás dos "fatos verídicos" que teriam inspirado o
roteiro. Como não encontrou, cobrou os diretores, que admitiram ter utilizado o
estratagema para ganhar um pouco mais de liberdade.
Nesse contexto, o apelo à realidade acaba sendo uma
licença para exagerar, ferir as regras clássicas da narrativa e até para
eximir-se de apresentar algo minimamente prestável, como frequentemente ocorre
nos "reality shows".
A questão, então, passa a ser: como caímos num ardil
tão bobo? Só porque alguém diz que aquilo tudo é verdade, acreditamos e
passamos a nos interessar por enredos absolutamente inconsistentes que, se
fossem apresentados como ficção, não seriam dignos de um instante de nossa
atenção?
E a resposta de Feldman é "sim". Um dos
achados mais interessantes da psicologia da mentira é que existe um mecanismo
chamado viés de verdade, que nos acomete a todos. Por razões evolutivas, o
padrão de nossos cérebros é aceitar como em princípio verdadeiras todas as
declarações que nos chegam à cachola. Na maioria das vezes, elas são mesmo (ou
a linguagem não faria muito sentido e jamais teria se desenvolvido), e o custo
de duvidar de tudo o que ouvimos seria demasiado alto. Desenvolver o pensamento
crítico exige treino e constante atenção. Assim, quando atuamos no piloto
automático, acabamos sem nos dar conta sendo vítimas das vigarices mais
primárias, como spams na internet, discursos de políticos e de religiosos e
"reality shows". (fonte: HÉLIO SCHWARTSMAN
articulista da Folha).
BUENAS CRIANÇAS... A GENTE PROMETEU...kkkk...MAS O TEXTO É MUITO BOM PARA DEIXAR PASSAR, PRINCIPALMENTE, PORQUE COMO BEM DISSE... NUNCA VIU O BBB...E SE FOR PENSAR, ELE NÃO FALA DO PROGRAMA, MAS DA PSICOLOGIA DA MENTIRA....E COMO REAGIMOS A ESSA SITUAÇÃO...ASSUNTO INTERESSANTE E SURTADO! MERECE UMA PESQUISA MELHOR! ABRAÇOS APERTADINHOS REGINA.
DESEJANDO... | |
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RÊ e RÔ |